13 de Maio · 2021

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“Me apaixonei pela programação no primeiro código”

De origem humilde, Cícero Matos, pioneiro do Vai na Web, conta que precisou convencer a mãe sobre a profissão que gostaria de seguir. por Mayhara Nogueira

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O tema “protagonismo infantil” gera bastante interesse entre especialistas de educação. No idioma grego, “protagonismo” significava ator principal de uma peça teatral e também quem está no foco dos acontecimentos. Na sala de aula, com orientação do professor, é a oportunidade de aprender a se relacionar com situações reais, compreendendo o espaço individual dentro de um contexto coletivo.

As vantagens são inúmeras: desenvolvimento de habilidades sociais; autoestima; senso de responsabilidade e empatia. Por paixão, vocação e incentivo da mãe, o programador Cícero Matos, pioneiro do Vai na Web, experimentou tal protagonismo. Por isso, soube, desde muito cedo, aos 12 anos, qual profissão gostaria de se dedicar quando adulto: desenvolvedor.

Cícero teve a oportunidade de se relacionar pela primeira vez com a tecnologia no extinto programa social “Galera.com”, no Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro, onde cresceu. “Quando encontrei um computador fiquei tão emocionado, quase chorei. Não cansava de me perguntar: ‘Como isso é possível’?’

Percebendo a afinidade com a máquina e o destaque que ganhou no programa da comunidade, a mãe de Cícero, a doméstica Antônia Eliana de Matos (42), resolveu colocar o filho — o único que se interessava por tecnologia — em uma escola de informática, em Copacabana, no ano de 2007.

“Era outro planeta para mim, pois morava no Morro, nunca tinha ido à Copacabana. Além disso, eu era o mais novo da turma”, lembra. “Me apaixonei por programação desde o primeiro código, quando tive contato com HTML e CSS. Foi a partir daí que tive a convicção que gostaria de ser um web designer — ou desenvolvedor front-end, como é conhecido atualmente.”

Mas como todo jovem morador de comunidade, Cícero precisou buscar uma profissão palpável, que garantisse renda para família. Adiou o sonho duas vezes. “Ironicamente, o meu primeiro emprego foi como atendente do Bob’s em Copacabana. Não tinha um dia que não lembrasse do curso”, conta. “Depois, entrei para o programa Jovem Aprendiz do Metrô Rio. Gostava do trabalho, mas era como se eu tivesse que me encaixar em um universo que não era meu.”

A virada aconteceu quando se inscreveu na primeira turma do Vai na Web, em 2017. “Aulas práticas de códigos me acenderam a chama. Me questionava: “Como é que eu passei tanto tempo sem fazer isso?”

Após alguns meses de curso, ingressou em dois processos seletivos de estágio em empresas de tecnologia. “Nessa época, minha mãe queria que eu arrumasse um emprego. Tive de convencê-la que eu precisava terminar o curso. Queria tanto a vaga de estágio. Era isso ou voltar a fritar hambúrguer”, lembra.

Cícero conseguiu a vaga e iniciou o trabalho em agosto de 2017. Em pouco tempo, havia sido contratado. Não demorou muito e, com apenas com 23 anos, estava trabalhando em São Paulo, onde permaneceu no ano de 2018 e 2019, se dedicando ao desenvolvimento de um novo produto digital em uma Startup paulista.

Após assumir a experiência, foi incumbido da responsabilidade de transmitir o que aprendeu para outros jovens do Vai na Web, no Rio de Janeiro. “Se existe uma coisa que eu descobri com a programação e, principalmente com o Vai na Web, é que não fazemos nada sozinhos”, conta. “Afinal de contas, quando duas pessoas com conhecimento se encontram, e se conectam, ninguém perde, ao contrário, só somam. Todo mundo ganha.”

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Vai na Web é um programa gratuito que leva tecnologia avançada e valores humanos para regiões de conflito armado no Rio de Janeiro. Para conhecer a rotina dos estudantes e mais informações da iniciativa, acesse o nosso perfil no Instagram, Facebook ou Twitter.

Vai Na Web,

O Vai na Web é um movimento de alta tecnologia e impacto social que amplia as capacidades humanas e as requalifica para encarar os desafios da indústria 4.0.