13 de Maio · 2021

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“Vamos levantar a galera para ocupar todos os espaços”

Zaíra Gonçalves acredita que mostrar ao jovem a sua potência e o seu papel no mundo é o primeiro passo para a revolução.

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“O que é ser uma mulher jovem e negra no mundo? Da onde eu vim? O que eu gosto? Para onde eu desejo ir? Quais são os meus limites?”, questiona a estudante de programação do Vai na Web, Zaíra Gonçalves (25). “Sempre vivi no automático, tentando cumprir um roteiro social que não era para mim. Mas hoje, depois do Vai na Web, não tem um dia que eu não pense na minha construção e qual é o meu papel na sociedade”, completa.

Ao levar em consideração as estatísticas, Zaíra é uma potência rara. Como mulher, ela faz parte dos 15,5% que se dedicam a área de computação, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Quando ingressar no mercado de trabalho, fará parte do grupo restrito de mulheres atuantes na área de TI, apenas 20% (PNAD, Amostra de Domicílios). E como mulher negra, ela é outra grande exceção: apenas 10,3% estão em cargos funcionais; 8,2%, em cargos de supervisão; 1,6%, em posições de gerência e 0,4%, no quadro executivo (Boletim Mercado de Trabalho do IPEA).

“Devemos nos perguntar incansavelmente: por que não temos mais mulheres e mais mulheres negras em postos de liderança ou tecnologia?”, questiona.

Zaíra se lembra que a vontade de construir uma carreira e a afinidade com a tecnologia surgiu na infância. A sua mãe, concursada, trabalha no setor administrativo da prefeitura do Rio das Ostras (RJ), e o seu pai dedica-se à área de automação industrial. “Ele sempre me incentivou, me ensinou a montar, desmontar e consertar computadores. Ganhei a minha primeira máquina aos 15 anos”, conta. “Eu curtia aprender. Foi nessa época que passei a acessar os fóruns de programação e tecnologia. Brincava de hackear o computador dos amigos. Lógico, sem prejudicar ninguém”, brinca.

A jovem tinha em mente que faria ciência da computação, mas uma pequena curva no seu destino a motivou a optar por engenharia elétrica. Cursou três anos, contudo não chegou a terminar. “Eu sempre gostei de TI, mas não sabia onde me encaixar e não conhecia o mercado. Além disso, com 17 anos, não tinha uma opinião formada, acabei sendo influenciada pelo meu pai e uma amiga, que cursava engenharia”, comenta. “No entanto, o curso me ensinou muito. Foi onde, pela primeira vez, tive acesso à lógica de programação e desenvolvimento de aplicativos.”

Zaíra assume que largar tudo e recomeçar foi um grande acesso. Contou com ajuda da família para dar um novo passo e dedica-se a sua verdadeira paixão: programação. Descobriu o Vai na Web no Instagram e se conectou com o conceito. “Um programa que leva conhecimento para quem não tem acesso? Isso é fantástico”, lembra a jovem que, ao ingressar no curso e mergulhar nas aulas de habilidades socioemocionais, despertou-se para algo maior.

“Demorei muito para enxergar a importância da representatividade. Nunca parei para me questionar: ‘Por que a gente não consegue se enxergar? Por que não ocupamos todos os espaços?’”, aponta. “Quando passamos a entender como as coisas funcionam, que somos seres pensantes, cheios de sonhos e vontades, o único desejo é acordar as outras pessoas e dizer: ‘Você não precisa se limitar, pois é seu direito ganhar o mundo. E a gente vai te ajudar a conseguir alcançar o seu objetivo e a crescer’”, acrescenta a jovem que deseja alcançar o posto de full stack — programadora front e back-end.

Há um ano, Zaíra vem construindo um caminho brilhante: está no segundo módulo do programa de desenvolvimento do Vai na Web; cursa faculdade de Sistema da Informação e produz freelas de AutoCAD para empresas de engenharia civil. Recentemente, junto com o time do VnW, esteve no Hacking Rio, competindo e aprendendo com outros hackers do Brasil.

“Antes do Vai na Web eu não fazia ideia de quem era a Zaíra, mas hoje é uma pessoa em busca de consciência e conhecimento para ajudar o próximo. E, principalmente, inspirar outras mulheres a vir com a gente e a ingressar no mundo da tecnologia.”

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Vai na Web é um programa gratuito que leva tecnologia avançada e valores humanos para regiões de conflito armado no Rio de Janeiro. Para conhecer a rotina dos estudantes e mais informações da iniciativa, acesse o nosso perfil no Instagram, Facebook ou Twitter.

Vai Na Web,

O Vai na Web é um movimento de alta tecnologia e impacto social que amplia as capacidades humanas e as requalifica para encarar os desafios da indústria 4.0.